A premissa foi consenso no CONEB entre estudantes e especialistas no assunto |
Segundo projeções internacionais, o Brasil deverá se tornar, em 2013, a quinta economia do mundo. O momento de crescimento do país, no entanto, deixa um grande desafio para o movimento estudantil: qual caminho seguir quando a educação ainda possui índices desastrosos em relação aos outros países? Essa foi a pergunta que marcou as discussões na tarde deste domingo (20), do 14º CONEB, durante a mesa “O papel da universidade para o desenvolvimento nacional”. Os estudantes acompanharam o debate no auditório de Ciências Sociais da UFPE.
Os diferentes padrões de universidade e conhecimento, além das políticas educacionais dos últimos governos deram o tom das discussões com os convidados Ennio Condotti e Olival Freire, diretor do Museu da Amazônia e coordenador da secretaria do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e Inovação, respectivamente.
Uma nova reconfiguração de universidade aliada ao desenvolvimento
Em meio às explicações e as opiniões dos estudantes, ficou o consenso geral de que o Brasil não pode seguir um modelo de desenvolvimento que ignore as desigualdades sociais e as necessidades de reformas básicas, entre elas, a Reforma Universitária: “Educação é a chave para o efetivo crescimento, seja lá qual for o modelo de política adotada pelo governo”, avaliou Freire.
Em seu discurso, ele destacou três momentos históricos fundamentais para refletir a situação da universidade atual. O primeiro é a partir da década de 1930, marcado pela criação das primeiras grandes universidades pensadas para desenvolver pesquisa e conhecimento. A USP, criada em 1934, é um exemplo das realizações da época. “É evidente ressaltar esse marco, até porque a criação da UNE vai de encontro com a efervescência das primeiras instituições da época”, pontuou.
O segundo momento é na década de 1950, durante o governo de Getúlio Vargas. O então presidente criou agências federais voltadas ao apoio de desenvolvimento de pesquisas nas instituições presentes em todo país: as CNPqs e as Caps. Esse período também é marcado pelo desenvolvimento de duas instituições importantes, que definem o cenário histórico das pesquisas nas áreas exatas, o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e o Instituto Tecnológico da Aeronáutica.
“O terceiro momento, infelizmente, foi marcado por um caráter de modernização autoritária da educação. Sei que muitos deram o sangue por essa época, mas não posso deixar de citar esse momento, que é relevante para o cenário universitário no Brasil”, já avisou Freire, antes mesmo de iniciar a explanação.
Trata-se exatamente do regime militar e as transformações universitárias na década de 1970. A ditadura conduziu a universidade como objeto de reforma por meio de um conjunto de medidas. “A reforma universitária que incidiu não foi a aspirada pela UNE, mas foi uma reforma que constituiu o grosso das grandes universidades que existem hoje”, ressaltou.
Segundo Freire, hoje o país vive um quarto grande momento da educação, com uma reconfiguração de medidas, que traz potencialidades, mas também grandes riscos. “Sem dúvida, o ProUni, o ReUni e outros programas mudaram a cara da universidade.
Porém, esse projeto de reforma acarretou uma expansão rápida na universidade. Se não houver uma continuidade excepcional, o projeto pode se reverter ao contrário do esperado, ou seja, pode existir uma expansão que leve a uma queda brutal na qualidade de ensino. O desenvolvimento nacional, nesse caso, vai pelo ralo”, concluiu.
Educação não é mercadoria!
“Qual é a missão da universidade hoje, qual caminho a seguir?”. Foi plantando essa pequena semente na cabeça dos jovens presentes que Ennio Candotti começou seu discurso. Para o diretor do MUSAM, a Reforma Universitária não pode se pautar pelas razões políticas de momento, “é preciso se pautar por missões maiores, de longo prazo”, analisou.
O segredo para isso, explicou, é defender a autonomia universitária, para que as instituições possam estudar os conhecimentos transformadores da sociedade. “Defender a universidade da pressão de mercado é uma missão importantíssima para que encontros como esse possam acontecer com frequência e com inteligência.”, ressaltou Candotti, que ainda defendeu uma bandeira antiga da UNE:
“Educação não é mercadoria. Entendido esse processo, iremos ter consciência do desenvolvimento”, afirmou.
Patrícia Blumberg. Foto: Adolfo Santos Sonteria